O CAOS SOCIAL EM ÉPOCA DE PANDEMIA - A ordem da natureza contra a liberdade humana


 

            O COVID-19 surgiu como um vírus de resfriado que, em alguns casos, afeta o sistema respiratório, podendo levar o indivíduo até a morte. Isso tem levado a sociedade do século XXI a um verdadeiro caos na sua estrutura. Deve-se destacar que ao atribuir o termo “caos” em relação a sociedade, como afirma Rousseau, estamos dizendo que a mesma não possui uma ordem, que a harmonize e contribua para vida do homem. Contudo, isso é fruto do próprio homem que age contra a sua natureza. Rousseau compreender a natureza a partir de uma totalidade harmoniosa, que na sua própria conjuntura, contêm leis que conduzem a vida dos seres para a manutenção dessa harmonia. Ele atribuirá essa harmonia enquanto bem, de forma geral.

            O bem, que é um atributo próprio da natureza, é infundido a todos aqueles seres que que processem segundo essa “legislação”. Contudo, o indivíduo dotado de razão, no caso o ser humano, que se desenvolveu mediante a natureza, pode volta-se contra ela, no momento em que a sua liberdade vai contra a harmonia da natureza. O ser humano é o único ser vivo que pode agir de forma contrária a sua natureza, mediante a sua liberdade. Os outros seres vivos não possuem liberdade, mas um agir instintivo próprio de sua condição ecológica, não transgredindo a sua natureza. Todavia, essa conjuntura dos seres na natureza, modifica-se mediante a ação humana, a partir do momento em que o homem utiliza-se do meio natural para suprir suas vontades e não agir de acordo com a harmonia da natureza, causando o caos neste meio. O caos existe quando a natureza está em desordem, e esse caos é um atributo próprio da humanidade.

            O novo coronavirus é um ser biológico, presente na ordem da natureza, e como todo ser biológico, ele necessita de um habitat, alimentação e dar continuidade a sua espécie, mas ele não possuem uma racionalidade como os humanos, nem a capacidade de se deslocar, por sua própria vontade, de um país para outro. Ele só conseguiu chegar à categoria de pandemia por causa da “ajuda” de outro ser que pudesse compensar os atributos que o mesmo não tem. O vírus se desenvolveu em alguma animal presente na ordem da natureza, mas, com a interferência do homem, ele encontrou outro hospedeiro capaz de elevar a sua propagação. Foi no corpo humano que o coronavirus encontrou um novo habitat, capaz de suprir suas necessidades.

            Sendo assim, o ser humano contaminado pelo COVID-19, contribuiu para essa pandemia, no qual o seu contato com os indivíduos ajudou na propagação e contaminação dos outros indivíduos, infligindo a sua própria natureza e a ordem natural, causando-lhe o mal. O que começou como um mal particular, por começar com uma pessoa, se tornou uma mal geral, por abranger todo o mundo. Com isso, o caos na sociedade atual atribui-se por uma série de fatores, e que afeta mais outro conjunto de fatores na sua estruturação. O vírus que supostamente surgiu na China, se espalhou no mundo por causa do homem, que serviu como um transmissor, acarretando na morte de muitas pessoas. Isso deu início a uma série de problemas, gerando o caos na sociedade, como o fechamento de grande parte do comercio, o desemprego, a queda da economia dos países, a crise do sistema de saúde etc. Esses problemas vêm piorando cada vez mais por causa de que muitas pessoas ainda não estão tomando as ações preventivas para tentar frear o contagio.

            Contudo, a ação do homem pode também gerar harmonia na natureza a partir do momento em que ele contribua para a ordem que a rege. Mesmo o coronavírus causando seus males, as medidas preventivas e o isolamento social vem diminuindo os males humanos contra a natureza, como a poluição do ar, queimadas e desmatamento etc. Isso porque o homem natural participa da ordem de forma imediata, sem refletir nem ter nenhuma ideia sobre a ordem da natureza. A ordem da natureza representa, assim, um modelo na difícil tarefa de superação de tais conflitos, que não ocorrem apenas entre os homens, mas que são igualmente interiorizados pelo indivíduo.

            Não obstante, o homem possui o desejo de atingir uma coerência interna, de superar o conflito existente na sociedade entre o indivíduo e seu mundo, a partir de medidas que contribuam para a harmonia da natureza a partir da modificação na sociedade. Nesse contexto, a construção intelectual do estado de natureza operada por Rousseau procura racionalizar essa questão, a partir da reflexão do conhecimento do mundo histórico e da ordem natural. A partir disto, o homem busca reconstituir no mundo social sua participação em uma totalidade moral, como forma de construção intelectual do estado de natureza. Como afirma Baczko, a sociedade que surge com o decorrer da história não é mais possível conquistar a totalidade moral através da ordem da natureza somente. Essa totalidade precisa agora “ser construída, provir do exercício da vontade e da razão humana, já que, espontaneamente, apenas os conflitos e o mal moral surgem no curso da história, e não a negação do mal.

            Portanto, a harmonia da natureza é ambiente propicio para a vida e o caos ocorre quando a própria natureza sofre a ação do homem, dadas as suas condições, e não só isso, os transgressores da harmonia natural também sofrem por causa de suas ações, seguindo sua própria ordem. A aquisição da ideia de ordem pelo homem coincide com a perda de sua participação na ordem da natureza, algo visto por Rousseau como uma queda, pois o homem, ao sair do estado de natureza, não obtém em troca uma ordem social “artificial”, na qual ele possa participar.



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