A
escola de Frankfurt foi um movimento filosófico e sociológico surgido na década
de 20 no Instituto de Pesquisa Social em Frankfurt, na Alemanha, reunindo
vários pensadores da época. A Teoria Crítica foi a ligação conceitual que
conectou os intelectuais da Escola de Frankfurt, criando uma nova
interpretação do marxismo, da sociologia e da política no início do
século XX. Participaram da Escola de Frankfurt intelectuais como Theodor
Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Walter Benjamin e Jürgen
Habermas. Para compreender a origem da escola de Frankfurt, é necessário
entendermos o contexto histórico da Europa e do mundo na época. Um dos grandes
acontecimentos que iniciara no século XX foi a ascensão da União
Soviética como potência socialista. O marxismo era fortemente debatido na
Europa, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial. Alguns intelectuais
defendiam a aplicação de um marxismo puro nos governos; outros, de ideias
marxistas propostas por reformas de base, mas sem extinguir o capitalismo;
outros, ainda, eram totalmente contrários ao socialismo, comunismo ou qualquer
ideia de inspiração marxista. A Teoria Crítica consiste em
[...]mera descrição de problemas
estruturais e submete as estruturas sociais a uma crítica que pode ser
produtivamente apropriada de várias maneiras pelas atuais teorias pós‑materiais.
Uma teoria crítica dos sistemas aborda as antinomias das estruturais sociais;
ela realiza uma crítica imanente, em atitude não‑conformista, abarcando
igualmente o “olho maligno”, tão caro à teoria crítica. (FISCHER‑LESCANO, 2010, p. 164)
Além
disso, também existiam aqueles que defendiam uma nova interpretação das ideias
de Marx, mais adaptadas à realidade do século XX. Estes últimos contemplam
os intelectuais da Escola de Frankfurt, que, com base em uma Teoria
Crítica da sociedade, reuniam elementos marxistas com uma crítica a
diversos aspectos do cotidiano social europeu do século XX, mais tarde
criticando sobretudo o nazifascismo da Alemanha de Hitler e o
fascismo da Itália de Mussolini. A Escola de Frankfurt e a Teoria
Crítica surgiram após a Primeira Semana de Trabalho Marxista, um evento
organizado por Félix Weil. A intenção do evento era buscar uma nova
interpretação do marxismo, mais pura e fiel às ideias de Marx e com
possibilidade de aplicação no cenário do século XX. Como resultado dessa
semana, foi criado o Instituto de Pesquisa Social, que obteve o patrocínio de Herman
Weil, pai de Félix Weil e um milionário alemão que ganhou muito dinheiro com o
plantio de cereais na Argentina.
O Instituto de
Pesquisa Social obteve uma parceria com o governo alemão, foi vinculado à
Universidade de Frankfurt e foi dirigido por Kurt Albert Gerlach após a sua
criação por um decreto oficial do ministério da educação alemão, em 1923. No
mesmo ano, o diretor do instituto morreu e o cargo foi ocupado, entre 1923 a
1930, por Karl Grümberg. Em 1930 foi criado um escritório do Instituto de
Pesquisa Social em Genebra, e, em 1933, a França passa a abrigar uma filial do
instituto. Em 1933, o governo nazista fechou o Instituto de Pesquisa
Social de Frankfurt, que passa a funcionar com a sede em Genebra. O nome
Escola de Frankfurt para o Instituto de Pesquisa Social somente foi
aderido na década de 1950. Os teóricos mais famosos da Escola de Frankfurt,
para além do marxismo, falaram sobre cultura,
sobre totalitarismo e sobre política em
geral. A filosofia foi o principal viés teórico usado por eles
para procurarem soluções para os conflitos de origem política e social.
Entre as várias reflexões
e produções da Escola de Frankfurt, o conceito de Indústria
Cultural foi um dos mais importantes produzidos pelos teóricos Theodor
Adorno e Max Horkheimer. Segundo os pensadores, há um fenômeno cultural mundial
em curso desde o início do século XX — o capitalismo industrial, que entrou em
curso com a Revolução Industrial, necessitava de uma força
de propaganda ideológica para ser assimilado pelas pessoas. Para que
as indústrias produzam muito, é necessário que se venda muito. Para vender-se
muito, as pessoas precisam comprar muito. A ideologia do
consumismo (excesso de consumo sem necessidade) é veiculada por formas de
arte também produzidas em escala industrial. Como afirma [1]Cabral:
A Indústria
Cultural apresenta-se como único poder de dominação e difusão de uma
cultura de subserviência. Ela torna-se o guia que orienta os indivíduos em um
mundo caótico e que por isso desativa, desarticula, qualquer revolta contra seu
sistema. Isso quer dizer que a pseudo felicidade ou satisfação promovida
pela Indústria Cultural acaba por desmobilizar ou impedir qualquer
mobilização crítica que, de alguma forma, fora o papel principal da arte (como
no Renascimento, por exemplo). Ela transforma os indivíduos em seu objeto e não
permite a formação de uma autonomia consciente.
A visto disso, para
Walter Benjamin, a reprodutibilidade técnica é o meio pelo qual
a produção de arte em escala industrial é possível; é a capacidade
de reprodução em massa de uma música, que pode ser gravada e
reproduzida infinitas vezes, ou de uma imagem, que pode ser captada por
fotografia ou filmagem e também reproduzida. Para Benjamin, esse
fenômeno retira da arte a sua autenticidade, que ele chamou de “aura”.
Para Adorno e
Horkheimer, o capitalismo não só utilizou a Indústria Cultural para criar um
movimento de consumismo, como utilizou a própria arte como forma de
produto para ser consumido. Dessa maneira, o cinema, a música e até as artes
plásticas passaram a ter uma produção baseada em uma fórmula que agrada aos
espectadores pela facilidade de assimilar-se o conteúdo da obra. O espectador
médio da indústria cultural é alguém que não pretende encontrar na obra de arte
nada além do entretenimento, caindo numa massificação absoluta dos produtos
culturais. De acordo com Porfírio:
A cultura de massa, aquela
produzida pela Indústria Cultural, segue a seguinte fórmula: pega elementos da
cultura erudita (segundo Adorno, essa é a cultura autêntica e bem elaborada),
junta aos elementos da cultura popular (produzida originariamente por um povo)
e lança sobre a junção elementos que agradem ao público. O resultado é
a obra de arte produzida em escala industrial.
Destarte, a Escola de Frankfurt possibilitou não apenas uma nova discussão filosófica e sociológica do mundo, mas também revelou vários pensadores da época. Entre esste, os que mais se destacam foram Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benjamin e Habermas. Theodor Adorno (1903 -1969), foi um pensador alemão que se dedicou a entender a problemática moral e social do século XX frente ao capitalismo. Por ser judeu e comunista, foi perseguido pelo nazismo e refugiou-se nos Estados Unidos. Max Horkheimer (1895-1973), foi um dos diretores do Instituto de Pesquisa Social. O filósofo e sociólogo foi responsável, junto a Adorno, por elaborar o conceito de Indústria Cultural, no livro Dialética do esclarecimento. Também foi perseguido pelo nazismo e refugiou-se nos Estados Unidos. Herbert Marcuse (1898-1979), sendo um dos mais polêmicos pensadores da Escola de Frankfurt, dedicou-se a entender a relação entre sexualidade e capitalismo, além de estudar as problemáticas envolvendo raça e exclusão social. Seus estudos englobavam o marxismo e a psicanálise freudiana. Foi perseguido pelos nazistas pela origem judaica e pela vertente socialista. Marcuse refugiou-se nos Estados Unidos, onde lecionou na Universidade da Califórnia até 1969. Walter Benjamin (1892-1940), apesar de não ter vínculo direto com o Instituto de Pesquisa Social e de morrer antes da sua reformulação como Escola de Frankfurt nos anos de 1950, Benjamin colaborou com textos para a Revista do Instituto de Pesquisa Social vinculada à Universidade de Frankfurt. Dedicou-se à crítica literária e da arte em geral. Jürgen Habermas é o mais influente dos pensadores da segunda geração da Escola de Frankfurt (estudou nela após a reformulação do instituto na década de 1950). Ele ainda está vivo e dedica-se a entender a ética e a política em meio às extensas possibilidades do discurso na atualidade. Para Habermas, as pessoas devem buscar o consenso democrático com base em um discurso que contemple a todos os cidadãos.
REFERÊNCIAS
REALE,
Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Do Romantismo até nossos
dias. 8ª ed. v. 3. São Paulo: Paulus, 2007.
HELFERICH,
Christoph. História da Filosofia. Tradução por Luiz Sérgio Repa. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
PORFíRIO,
Francisco. Escola de Frankfurt. Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-escola-frankfurt.htm. Acesso em 26
de maio de 2020.
FISCHER‑LESCANO,
Andreas. A Teoria Crítica dos Sistemas da Escola de Frankfurt. Tradução
de Rúrion Melo. No. 86. São Paulo: CEBRAP: 2010. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/nec/n86/n86a09.pdf>. Acesso em: 28 de maio de
2020.
[1] CABRAL, João Francisco Pereira. Conceito de Indústria Cultural em Adorno e Horkheimer. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/cultura/industria-cultural.htm>. Acesso em 28 de maio de 2020.


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